sábado, 5 de agosto de 2017



As Estratégias de Marketing para a Área de Mercado Leitor

Um jornal ou revista, tem dois públicos distintos: o mercado anunciante e o mercado de leitores, sejam assinantes ou leitores de banca. A qualificação do mercado anunciante é mais fácil de conseguir, mas a qualificação do mercado de leitores é bem mais difícil de realizar.

Os jornais impressos e as revistas semanais, são consideradas mídias de massa. Seja por aspectos técnicos, como a dificuldade de geração diária de diversos produtos editoriais impressos, seja pela dificuldade de logística para distribui-los, os jornais nunca se esforçaram em definir e entender as necessidades e desejos do seu público leitor. Escrevem para todos, sem se preocupar com a segmentação do seu público leitor. Mesmo os jornais de finanças não promovem a segmentação de seus leitores (por área de interesse, por exemplo), o que facilitaria a venda de assinaturas associadas a produtos agregados específicos e serviria ainda para orientar o conteúdo editorial desses veículos.

Essa atitude é uma herança da economia da era industrial -  produção em massa, mídia em massa, distribuição e consumo em massa. Pena que hoje o mercado caminha na direção oposta.

A segmentação por preço e público


Mais recentemente (aproximadamente 15 anos), surgiram os jornais populares “sem crimes na capa”, que produziram um boom na circulação, com foco (público alvo) diferente dos jornais ditos tradicionais (quality papers), mostrando ao mercado que a segmentação de público poderia ser um grande negócio. No início, o mercado anunciante demorou a investir nesse segmento, mas com o aumento significativo das tiragens, a adesão dos anunciantes se concretizou. A macro segmentação por público-alvo e preço, acabou se revelando uma iniciativa de sucesso para muitas editoras, mas a falta de informações mais detalhadas sobre os leitores, já que esses jornais não vendem via canal de assinaturas, é um ponto fraco que, no mundo digital, vai cobrar seu preço em breve.

Enriquecendo as informações sobre assinantes 


Para os jornais que circulam via canal de assinaturas, a oportunidade de conhecimento mais detalhado sobre o perfil de leitores, é totalmente factível, apesar de pouco investimento das editoras em conhecer melhor seu público. Os sistemas de circulação, principalmente aqueles que oferecem suporte a funcionalidades de CRM, permitem a coleta e registro de inúmeras informações que aumentam a qualificação de sua base de assinantes, permitindo traçar um perfil bem apurado sobre o seu público leitor.

A possibilidade de realizar pesquisas com os assinantes para levantamento de informações de qualificação da base, como dados demográficos, psicográficos, de opinião e comportamento, bem como sobre o nível dos serviços prestados aos assinantes, permite um conhecimento crescente sobre o seu público, evitando os cancelamentos e facilitando a recuperação futura daqueles que cancelaram suas assinaturas em determinado momento. Algumas dessas informações levantadas durante a vida útil do assinante, ainda podem ser utilizadas pela área editorial, de forma a dirigir o conteúdo do jornal às expectativas e anseios do seu público leitor.

Rastreando a utilização das edições digitais


Após o lançamento das edições digitais dos jornais, uma outra fonte de qualificação passou a ser possível, que é o rastreamento de utilização do conteúdo digital ofertado, a partir da identificação prévia do leitor, mesmo que não se cobre pelo acesso ao conteúdo. A integração dessas informações ao CRM do Mercado Leitor, vai ajudar na identificação do perfil e auxiliar a área editorial a entender o que mais chama a atenção dos seus leitores no dia a dia.

Segmentando a base de assinantes e leitores


O processo de segmentação da base de leitores, principalmente para aqueles que são assinantes, visa direcionar diversas ações de mercado, como promoções de vendas de assinatura, adequação da linha editorial ao público leitor, ações de recuperação de ex-assinantes, ações promocionais com produtos agregados, definição de benefícios para determinados públicos e diversas ações promocionais com os leitores também da venda avulsa.

O processo de segmentação da base de leitores pode ter diversas dimensões, como:
            . Geográfica: cidade, bairro, cep
            . Demográfica: idade, sexo, renda, ocupação, educação etc
            . Psicográfica: classe social, estilo de vida, personalidade
            . Benefícios do Produto/Serviços
            . Status de Lealdade: altamente leais, leais, indecisos
            . Atitude: entusiastas, positivos, indiferentes, negativos, hostís.

Algumas dessas segmentações podem ser obtidas com pesquisas de comportamento e de estilos de vida, feitas diretamente com a base de assinantes.

Outras segmentações podem ser realizadas através de softwares de análise de dados, como os de CRM analítico e mais recentemente, a tecnologia de Big Data, que ainda é incipiente em nosso país. Essas ferramentas, permitem a identificação de clusteres de assinantes com determinados perfís de comportamento, que auxiliam a identificar os diversos tipos de públicos existentes entre seus assinantes.

A partir da segmentação da base de assinantes, é possível realizar diversas atividades que darão sustentação às ações comerciais, como:
            - identificação das necessidades de geração de valor para os diversos segmentos
            - definição de políticas comerciais e de relacionamento para cada segmento
- definição dos benefícios de programas de retenção e fidelização, como Clube do Assinante / Leitores
            - identificação de ações promocionais para os diversos segmentos


Um novo cenário com o mundo digital

A revolução digital transfere o poder para o consumidor (leitor), que tem várias opções para se informar. A Internet permite ações políticas e privadas através de iniciativas espontâneas em blogs, foruns diversos, sites de relacionamento, torpedos etc. Tem sido comum a produção de conteúdo pelo próprio leitor.

No âmbito do mercado publicitário, ocorre a migração de anunciantes para novas mídias (próprias, google, externas etc). Apareceu a Mídia Programática (compra automatizada de mídia). O que falta mais acontecer?

No formato digital, a produção de conteúdo para públicos definidos, é uma grande vantagem a ser explorada pelos publishers, a partir do conhecimento segmentado de seu público leitor.


A Cauda Longa

Em 2006, Chris Andersen escreveu o livro “A Cauda Longa”, descrevendo o efeito da internet no mercado editorial, onde se pode comercializar títulos sobre assuntos específicos, com baixa tiragem, mas interessantes para determinados públicos-alvo. No quadro abaixo, vemos de forma gráfica, a cauda da qual Chris Andersen fala.



             
Os best sellers do mercado editorial encontram-se no lado esquerdo da curva e os títulos para públicos específicos (nichos), estão representados pela curva do lado direito. Na data em que o livro foi publicado, a publicação de conteúdos de nicho, já representava mais de 25 % da receita das
editoras.

A Cauda Longa da Mídia


Na cauda longa da mídia, o formato é invertido, ou seja, as notícias mais genéricas, divulgadas por toda a mídia, não produzem diferenciais e nem capacidade de geração de receitas, mas aquelas mais específicas, voltadas para determinados públicos, podem representar uma grande oportunidade de geração de caixa para as editoras jornalísticas. Tal qual acontece na cauda longa do mercado editorial.



 Mas a concorrência pela geração de conteúdo segmentado é muito grande e aí é que entra o diferencial que os jornais têm que garantir, que é a credibilidade na geração do conteúdo, sem o risco da publicação de “fake news”. E o conhecimento sobre o seu público-alvo.

Newsonomics


No livro “Newsonomics”, escrito pelo analista da indústria Ken Doctor, em 2010, participante como key note speaker do seminário da ANJ, em 2014, aparecem casos concretos de mudanças na estrutura em algumas editoras de jornais americanos, como a contratação de diversos terceiros, para a geração de conteúdos específicos, justamente para atender a essa nova realidade. É uma leitura obrigatória para quem quer ficar antenado com o que provavelmente vem por aí em termos de geração de conteúdo segmentado, apesar do livro ter sido escrito em 2010.




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