quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 

As tendências para o mercado de mídia e comunicação em 2021

Consultoria Kantar revela tendências que devem se firmar no ano que vem – muitas delas como resultado das mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19

O fim do ano chegou e com ele se solidificam as apostas para os cenários que vamos encontrar em um mundo profundamente transformado por pandemia, confinamento, crise econômica e sanitária – bem como por novidades tecnológicas e comportamentais. Em todas as áreas será assim, mas quando se trada do mercado de mídia e comunicação, as transformações parecem ter sido ainda mais rápidas e profundas. Pensando nesse complexo quadro, a Kantar, empresa de pesquisa de mercado, insights e consultoria, liberou seu relatório de apostas para 2021, mapeando as tendências que devem impactar essa indústria.

Alguns desses insights já vêm acontecendo nos últimos dois anos, por exemplo o crescimento do marketing de influência, que agora pede cada vez mais propósito e posicionamento de quem pretende ocupar esse posto. Mas há novidades, como o conceito do assinante-bumerangue, aquele que vai e volta entre as diversas plataformas de subscrição de conteúdo que consome.

Para saber mais sobre o que vem por aí na opinião dos experts da consultoria, confira abaixo um top 5 entre as apostas elencadas.

Audiências com comportamentos ainda mais complexos

Donos de veículos de mídia, de plataformas de conteúdo e creators não devem ter sossego em 2021. A comunicação é um dos mercados que mais muda com a velocidade com que as mudanças sociais e de comportamento tem ocorrido atualmente e isso não deve se alterar. Ainda que a pandemia de Covid-19 arrefeça no ano que vem, a maneira como as audiências se comportam seguirá sendo complexa de entender.

“À medida que a pandemia progredia em cada país, observamos que o consumo de mídia crescia de forma importante. Só em abril, vimos a navegação na internet aumentar em 64%, o consumo de vídeo online em 54% e o engajamento em mídia social em 56%. Enquanto isso, os consumidores estavam cada vez mais preocupados com o futuro e com a economia: 77% sentiam ou esperavam sentir um impacto em sua renda”, diz o relatório.

A resposta para lidar com esses humores da audiência, impactada por uma realidade que não é mais tão solida, é ter agilidade para mudar sua forma de fazer comunicação e ter ainda mais interesse em mapear o que as pessoas querem ver. Em outras palavras, ler os dados e os sinais emitidos por seu público.

O assinante-bumerangue

Não é nada pessoal com a sua marca ou serviço, mas saiba que a tendência do consumidor ir e voltar entre diversas plataformas irá se consolidar em 2021. Lealdade será uma conquista difícil, principalmente no mercado de streamings, que vive uma “guerra” pelo assinante, animada no caso dos filmes e séries pelo lançamento da Disney+.

Segundo a Kantar o que vem por aí no ano que vem são parcerias para driblar esse feito bumerangue – como a da Disney com o Bradesco e a Globo Play no Brasil, por exemplo, e uma importância ainda maior em cuidar do relacionamento com o cliente: “A relação das plataformas com seus assinantes é peça fundamental e deve ser cuidadosamente planejada para reduzir o número de cancelamentos; nada reduz mais a fidelidade do que os consumidores não terem suas necessidades atendidas e não haver uma opção de saída (cancelamento) fácil”, reforça o documento.

A relação entre comércio eletrônico e mídias sociais

De acordo com dados mapeados pela Kantar, só nos Estados Unidos, por exemplo, 63% dos consumidores começam suas buscas de compras primeiro pelo Google – e não por sites como Amazon ou Walmart. Isso significa que, principalmente para os “millennials”, as mídias sociais seguem sendo uma grande e poderosa vitrine.

Em 2020 tivemos marcas grandes retirando seus investimentos de plataformas como o Facebook para pressionar uma melhor maneira de controlar anúncios de conteúdos patrocinados que podem ser danosos à democracia e aos Direitos Humanos, indo no rastro dos atritos que as eleições nos Estados Unidos causaram. Com mais gente conectada em tempo integral, por causa da pandemia especialmente, surgiram os e-commerces sociais, notadamente criados pela Amazon e pelo Alibaba, que “lançaram suas transmissões ao vivo, através do ‘Taobao Live’ e do ‘Amazon Live’, respectivamente, dentro de seus ecossistemas”.

Para o ano que vem, essa comunicação multicanal deve se tornar mainstream: “Essas novas dinâmicas de mercado permitirão que pequenas marcas insurgentes cresçam e ganhem participação de mercado. Por outro lado, players mais estabelecidos precisam ser mais ágeis e utilizar plataformas de comunidade, como o e-commerce social do Facebook Shop e WeChat, em conjunto com influenciadores na sua estratégia de comunicação e promoção.

TV tradicional X streaming

Se tem algo que mudou radicalmente foi a forma de consumir conteúdo durante a pandemia, com as pessoas passando horas e horas nas plataformas de streaming, a ponto de governos mundo afora terem que pedir para empresas como a Netflix diminuírem a qualidade de exibição de seus conteúdos para não comprometerem todo o sistema de internet.

Para enfrentar essa concorrência, a TV tradicional aposta no ao vivo, que ainda é algo de muito apelo e insubstituível. Para a Kantar, vem por aí um necessário estudo da atenção da audiência para entender como ela está se comportando. “Ainda que os patamares de audiência tenham retornado gradualmente aos níveis pré-isolamento, a co-visualização ainda é importante, e prevemos que as sobreposições do público entre as plataformas de streaming crescerão. A medição em todas as telas e plataformas deve ser levada a sério para entender as migrações das audiências”, diz o documento.

Leia também: Streaming ganha espaço e se torna rotina para os brasileiros 

Ação, influência e propósito

Há um tempo as consultorias de mídia e comunicação vêm falando sobre propósito para marcas e criadores de conteúdo. Em 2020 houve um verdadeiro divisor de água nesse sentido e muita gente que não se manifestou (incluindo marcas) foi cobrado.

“Buscando se diferenciar em um ambiente de mídia saturado, as marcas compartilham cada vez mais suas opiniões e se envolvem na área de políticas públicas. As oportunidades de sucesso ou fracasso são reais e, embora a paixão por uma causa possa ser forte, se as marcas apenas falarem e não fizerem nada, a credibilidade delas será questionada”, reforça o relatório da Kantar.

Entre os dados liberados no material, está, por exemplo, o fato de que para 49% dos consumidores “agir com responsabilidade é o que mais influencia a reputação de uma marca”. Com as redes sociais dando voz aos indivíduos, cobranças e posicionamentos devem ser cada vez mais comuns e todo mundo precisará estar preparado para isso, principalmente de forma a evitar ruídos de comunicação antes que eles aconteçam. Caso contrário, mais e mais marcas ou pessoas podem ser vistos como oportunistas, de acordo com o posicionamento tomado.

 

Mídia, próxima parada: reinvenção completa

O negócio de apurar fatos e produzir notícias sustentado pela publicidade comercial foi desconstruído, mas o conteúdo jamais teve tanto valor. De que forma fechar essa conta?

Web Summit 2020 foi pautado por diversas discussões mais intensas: nossa convivência com a Inteligência Artificial, os robôs, nossa interação com o planeta e os ecossistemas ambientais, a evolução das cidades como centros de convivência, criação intelectual e serviços capazes de permitir uma convivência mais saudável entre as pessoas o espaço urbano e o futuro das mídias.

Tive o privilégio de participar de diversas dessas discussões ao longo dos 3 dias do evento, com quase duas dezenas de executivos e profissionais de mídia da Europa, América do Norte, África e Austrália. Um resumo dessas discussões é o objeto desse artigo.

Nesse último tópico, uma série de mesas-redondas foram realizadas ao longo dos 3 dias do evento, procurando compreender a dimensão da disrupção que desconstruiu por completo toda a lógica da produção de notícias, apuração dos fatos, a compreensão dos fatos, o relacionamento com as audiências, novos modelos de monetização e organização do que se convencionou a chamar de mídia comercial.

O século XX, desde o seu início, permitiu uma ligação quase umbilical entre democracias e liberdade de imprensa, tendo como avalista a publicidade comercial. O sofisma era básico: “Não existe democracia sem imprensa livre. Não existe imprensa livre sem publicidade”. Era justamente a publicidade comercial que garantia a repórteres, jornais, revistas, canais de TV e rádio, uma grande independência para reportar os fatos, mesmo aqueles que confrontavam o poder e as instituições. Tanto é verdade, que um dos requisitos essenciais para que ditaduras ou governos autoritários se estabelecessem, era justamente limitar a liberdade de imprensa.

Esse modelo funcionou razoavelmente bem até os primeiros anos do século XXI. Isso porque as mídias controlavam fundamentalmente os mecanismos de distribuição da informação produzida. Revistas, jornais, canais de rádio e TV funcionavam como “silos” e buscavam formas de endereçar seus produtos por meio de canais físicos estabelecidos: bancas de jornais, livrarias, assinaturas com entrega domicílio para as mídias impressas e repetidoras com alguma produção local coordenada com a produção de um núcleo central para as emissoras de rádio e TV.

A busca por audiência pautava o jogo e o negócio. E quanto maior o alcance e a penetração das mídias, maior era o valor do espaço publicitário – aberto no meio da informação oferecida. Por incrível que pareça, a produção de informação parecia abundante, mas não era, de fato. Ao contrário, era limitada por barreiras físicas definidas: o número de páginas nas mídias impressas e o tempo disponível, no rádio e na TV. Logo, a publicidade comercial era praticamente compulsória. Era necessário ver anúncios para continuar acessando o conteúdo.

Leia também: As tendências para o mercado de mídia e comunicação em 2021 

Desconstrução e disrupção

Aos poucos, como convém às disrupções reais, esse modelo foi sendo desconstruído, obedecendo aos 6 “Ds” clássicos da exponencialização. Primeiramente, o conteúdo foi digitalizado. Jornais, revistas, rádios e TV, apressaram-se para colocar seu conteúdo na internet, vendo aí mais uma forma de ganhar “audiência”. Depois, essa oferta passou “despercebida”, na medida em que, aparentemente, essa oferta digital trazia pouco valor.

E então veio a disrupção. A abundância de conteúdo jogado e disponível da internet precisava ser endereçado às pessoas que buscavam assuntos de sua preferência. Os buscadores, Google muito à frente e as redes sociais, receberam de bom grado uma corrente de conteúdo infinita gerada pelos veículos de mídia e então criaram o formato de “links patrocinados” – conteúdos que quisessem atingir mais pessoas e que fossem de encontro a públicos precisos precisariam ser pagos. Uma disrupção tão potente que logo tirou dos veículos o controle sobre a destruição. O “espaço” disponível aumentou dramaticamente e o valor dissipado da perda da distribuição foi capturado e multiplicado pelas plataformas de distribuição inteligente.

Vieram então os 3 “Ds” finais: desmaterialização (o conteúdo tornou-se inteiramente digital), desmonetização (a publicidade comercial saiu dos espaços publicitários e foi para anúncios incrivelmente direcionados e para gestão de comunidades) e democratização (mais pessoas e organizações passaram a produzir mais conteúdo, “brigando” pelo mesmo interesse e pela mesma audiência que as mídias tradicionais).

E agora?

O fato é que abandonar um modelo de negócio tão consolidado quanto a venda de espaço publicitário é extremamente custosa e difícil. O fato é que as mídias passaram a olhar para dentro de si mesmas para entender quem exatamente consumia o conteúdo e quais os formatos de monetização que esse domínio da preferência da audiência permitiam. Eventos foram uma alternativa, patrocínios associados a pautas de cobertura dos eventos foram uma ampliação dessa ideia. Assinaturas direcionadas por assuntos, por níveis de permissão de acesso e imersão no conteúdo foram outra ideia. Crowdsourcing foi outra opção voltada para atender mídias de “interesse público”, formas de comercialização dos conteúdos foram outras escolhas.

Mas nenhuma delas ou a combinação delas pareceu tão promissora quanto a ideia de “membership” ou uma evolução da ideia de assinatura, baseada não apenas na imersão no conteúdo oferecido, mas sim na ideia de associação a uma comunidade fechada com direito a serviços diversos oferecidos no interior das plataformas.

Sim, o futuro das mídias passa pela adoção e construção massiva de sistemas e a renúncia à publicidade convencional, como uma escolha para manter vitalidade e vigor factual. Saem as mídias “físicas” e entram as plataformas “phygital”, que unem experiências de conteúdo muito embasadas na entrega digital, temperadas por experiências físicas de alto valor. Ao “plugar” serviços nas plataformas e oferecer mais ideias de consumo associadas aos conteúdos, há toda uma série de oportunidades para as mídias novamente ganharem espaço, se diferenciando da massa de ruídos provocada pela abundância de informação, a partir da combinação de curadoria, relevância, confiabilidade e rentabilidade.

O futuro está nas plataformas

Em jogo, está não apenas a sobrevivência da “mídia”, mas sobretudo de um sistema de informação que sustenta as democracias liberais. O ecossistema ainda está muito machucado, com diversas empresas tradicionais à deriva diante da necessária transformação digital e a necessidade de ajustar modelos de negócios para a construção de comunidades, redes e coalizões que possam sustentar o negócio e viabilizar o caminho do “membership”. Por isso, convivemos com perda de credibilidade, alterações de estilo, lacunas na produção, ansiedade na cobertura e repercussão de diversas agendas sociais e econômicas, nublando a necessária objetividade da informação com opiniões muitas vezes desconectadas das aspirações e expectativas da audiência.

Ainda assim, os efeitos da exponencialização da informação ainda estão por todo o horizonte das mídias, no Brasil e no mundo, conforme pudemos concluir a partir das participações nas diversas mesas-redondas do Web Summit 2020. Mas a pandemia de Covid-19 mostrou o quão necessário e urgente é a reinvenção das empresas que buscam trabalhar a informação para audiências diversas. Buscar a conexão mais profunda, mais relacional e mais sintonizada com expectativas e oferta de valor com as audiências, retomando o controle sobre a distribuição dentro de plataformas fluidas e de formato phygital parece o caminho menos acidentado para uma nova mídia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

 

Facebook ameaça impedir compartilhamentos para não pagar por conteúdo

Projeto de lei na Austrália pressiona para que Facebook e Google paguem pela exibição de conteúdos jornalísticos, mas rede social se recusa

O Facebook se manifestou sobre o projeto de lei australiano que prevê que empresa desembolse dinheiro para veículos de comunicação. A gigante digital afirmou que se recusa a pagar e que deve impedir que usuários e veículos de comunicação da Austrália compartilhem notícias caso o projeto seja aprovado no Parlamento local. Segundo o Facebook, sua decisão é “a única forma de se proteger contra uma consequência que desafia a lógica”.

O projeto de lei “interpreta mal a dinâmica da internet e causará danos aos órgãos de imprensa que o governo tenta proteger”, disse o CEO do Facebook na região, Will Easton, em nota.

“O mais desconcertante é que obrigaria o Facebook a pagar a grupos de imprensa pelo conteúdo que postam voluntariamente em nossas plataformas e a um preço que ignora o valor financeiro que trazemos para eles”, continuou.

Eastou afirmou também que o Facebook gerou 2,3 bilhões de acessos em sites australianos nos primeiros 5 meses de 2020 – cerca de US$ 126,5 milhões (R$ 677 milhões). O CEO disse ainda que a empresa se prepara para o lançamento na Austrália do Facebook News, uma seção de notícias que já funciona nos Estados Unidos desde o ano passado.

Entenda o projeto de lei australiano

Em julho deste ano, o governo da Austrália divulgou o rascunho de um “código de conduta vinculativo”, que, de acordo com o documento, regularia as relações entre a mídia, em grandes dificuldades financeiras, e os grupos que dominam a Internet, após 18 meses de negociações que não conseguiram aproximar as duas partes.

O documento também prevê a transparência dos algoritmos usados para elaborar a ordem de aparição dos assuntos, assim como multas que chegariam a milhões de dólares em caso de violação.

O secretário do Tesouro australiano afirmou que “A Austrália faz leis que promovem nosso interesse nacional. Não respondemos a coerção ou ameaças de onde quer que venham”, e que espera que o Parlamento aprove a legislação neste ano.

Já o ministro das Comunicações, Paul Fletcher, disse que a tramitação do projeto continuará. “Está longe de ser algo sem precedentes para grandes empresas de tecnologia fazerem ameaças”, disse. “Continuaremos com nosso processo completo e cuidadoso e dando a todas as partes interessadas a chance para expor suas opiniões”.

Posicionamento do Google

Em carta aberta, o Google afirmou que a proposta de lei Australiana “é uma ameaça à privacidade individual e um fardo que degradaria a qualidade dos serviços de vídeo do YouTube”.  Apesar de mostrar descontentamento, a empresa, ao contrário do Facebook, não fez nenhuma ameaça.

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Daily News, dos EUA, é agora um jornal sem sala de redação

O grupo norte-americano Tribune Publishing, proprietário do Daily News e do Capital Gazette de Nova York, entre outros títulos, anunciou que fechará permanentemente as redações de ambos os jornais. Os funcionários trabalharão em sistema remoto e em home office.
“Determinamos que não precisamos reabrir a redação para manter nossas operações atuais”, escreveu Toni Martinez, executiva de recursos humanos da Tribune Publishing, em um e-mail para a equipe. “Com este anúncio, também começamos a olhar para oportunidades estratégicas e alternativas para ocupação futura.”
“Sem um caminho claro em termos de retorno ao trabalho e à medida que a empresa avalia suas necessidades imobiliárias à luz das condições econômicas e de saúde trazidas pela pandemia, tomamos a difícil decisão de fechar definitivamente o escritório”, disse Max Reinsdorf, porta-voz da Tribune Publishing, ao The New York Times. Ele, porém, observou que a empresa pode reconsiderar a decisão no futuro.
No início deste mês, o grupo Tribune Publishing divulgou seus resultados do segundo trimestre de 2020, mostrando um aumento de 39% nos assinantes apenas digitais, mas uma redução de 48% nas receitas de publicidade.
Leia mais em:

quarta-feira, 12 de agosto de 2020


O impresso tem futuro
É preciso entender qual o papel da mídia impressa em um mundo digitalizado in extremis, o que o leitor pretende encontrar naquelas páginas

Quanto mais a crise aperta, maior é a quantidade de empresas de comunicação que, ao verificarem o quadro de receitas e despesas, se desesperam. Os números não fecham, principalmente pela queda-livre das duas principais fontes do velho modelo de negócio: publicidade e assinaturas de impressos. O mal que se abate hoje sobre as empresas foi amplamente anunciado há, pelo menos, cinco anos. Mas dez entre dez jornais e revistas que viviam bons momentos no início da década optaram por não acreditar nas previsões. E hoje colhem as consequências.

Apesar do quebra-quebra generalizado, a boa notícia é que o impresso não está morto e não vai morrer. Só é preciso entender qual o papel da mídia impressa em um mundo digitalizado in extremis, o que o leitor pretende encontrar naquelas páginas. Detalhe: jornais e revistas são meios que cobram por exemplares. Ou seja, há uma decisão direta do leitor entre pagar e ler, ou prescindir do produto. É o caso mais claro de análise imediata de valor. Se valer a pena, o impresso vai ter sucesso. OK, mas o que vale a pena ler em um jornal ou uma revista?

Qualquer conteúdo refinado, aprofundado, explicativo, antecipado, bem apresentado, posicionado. Só o que não vale é publicar notícias velhas. A fala do prefeito não tem valor, mas a consequência de seu anúncio sim. O resultado da partida não vale nada, mas o perfil do goleador e a análise do esquema de jogo merecem leitura. A opinião dos amigos não acrescentam valor, mas a coluna do escritor mais reconhecido da cidade é um tremendo diferencial.

Há pouco mais de um mês o editor de opinião do The New York Times foi demitido. James Bennet publicou um artigo do Senador Tom Cotton, jovem conservador do estado de Arkansas (EUA), sugerindo ação militar contra as manifestações anti-racistas do #blacklivesmatter. Houve uma reação imediata de leitores e alguns milhares cancelaram as assinaturas, em protesto. O Times reagiu e se desculpou, mas já era tarde. Importante é que não teve medo de tomar posição. Um jornal pode – e deve – defender valores. Isso é o que o conecta com os leitores, não mais as notícias – como antigamente (sobre isso há um interessante artigo da professora Ana Brambilla no Orbis Media).

O problema central dessa reinvenção do jornalismo como negócio é fazer com que os líderes entendam a nova lógica. O impresso é apenas um dos produtos da cesta de opções que a empresa de comunicação deve oferecer à audiência. Pode ser hoje o principal – e será durante a transição. Sua receita é bem-vinda e não deve ser comprometida, mas já não é suficiente.

Não existe substituição, mas complementaridade. A estratégia informativa precisa entender para que serve cada um dos meios de comunicação – e fazer com que todos eles sejam necessários. Se a notícia é mais ágil nos meios digitais e eletrônicos, o impresso precisa investir em tudo o que não signifique rapidez. Simples assim.

O impresso teve um passado de muito sucesso, tem um presente de incertezas e terá um futuro assegurado se souber entender os novos tempos. Jornais precisam circular sete dias por semana? Depende do mercado. Na grande maioria dos casos não precisa. Revistas devem ter conteúdos para todos? Salvo exceções, revistas são produtos de nicho. Quanto mais profundo mergulhar no nicho, menos interesse deverá dar a quem ficar de fora. Diminui-se o tamanho do alvo e cobra-se mais pela especialização.

Nenhuma dúvida que 2020 será o ano das grandes mudanças – aceleradas pelo coronavírus. Uma grande quantidade de empresas já quebraram ou quebrarão até dezembro por falta de visão do negócio. Os que conseguirem entender os novos ventos terão um futuro radiante. Para esses, o impresso seguirá sendo um bom negócio.

Fonte: Meio&Mensagem (Eduardo Tessler – Jornalista e Consultor)

domingo, 17 de maio de 2020

Circulação digital dos jornais cresce no trimestre

Folha, Estadão, O Globo e Valor Econômico registram crescimento na média de exemplares nos três primeiros meses de 2020


Os meses de janeiro, fevereiro e março de 2020 marcaram o crescimento da circulação digital dos maiores jornais do Brasil. De acordo com dados do Instituto Verificador de Comunicação (IVC), a média da circulação digital de Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S.Paulo e Valor Econômico aumentou em relação ao primeiro trimestre de 2019.

Líder no ranking de exemplares digitais, a Folha saltou de uma média de 218.557 exemplares nos três primeiros meses do ano passado para 250.324 exemplares no início de 2020. Na segunda posição, O Globo viu sua circulação digital subir de 202.697 exemplares para uma média de 236.245 exemplares digitais.

O Estadão também cresceu, passando de uma circulação digital de 138.206, no ano passado, para 148.419. Especializado em economia e negócios, o Valor Econômico também registrou crescimento no período anual: foi de 61.111 exemplares para 81.103 exemplares.
Parte desses números pode ser explicada pela pandemia do novo coronavírus, que impulsionou a demanda por notícias e informações. Desde março, boa parte dos publishers começaram a divulgar um aumento na audiência de suas plataformas digitais, percepção corroborada pela Agência Nacional de Jornais (ANJ).


Fonte: Meio&Mensagem

NYT bate recorde de assinantes, mas prevê queda de publicidade

Jornal conquista 587 mil assinantes no primeiro trimestre do ano e afirma que publicidade deve cair 50% nos próximos meses


O New York Times conquistou 587 mil novas assinaturas digitais no primeiro trimestre do 2020. Esse foi o maior crescimento absoluto em toda a história do jornal estadunidense. Atualmente, a publicação conta com mais de cinco milhões de assinantes da versão digital.
Ao mesmo tempo, a companhia ultrapassou as estimativas do mercado e alcançou uma receita de US$ 443,6 milhões no primeiro trimestre, um crescimento de 1% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
O faturamento com publicidade, entretanto, caiu 15,2% no período, totalizando US$ 106 milhões. Em ligação com investidores, executivos da companhia afirmaram que a queda de publicidade no segundo trimestre do ano deve alcançar 50% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Essa movimentação de queda acentuada reflete a apreensão dos departamentos de marketing em investimentos massivos durante a crise econômica causada pela pandemia. Por outro lado, reforça uma estratégia que o jornal vem pondo em prática há anos: fortalecimento da receita de assinantes e queda na de anunciantes.
Segundo reportagem da Reuters, executivos do jornal afirmaram, também, que o faturamento da versão digital do NYT será maior do que a do impresso ainda neste ano – algo também inédito para a publicação.
Fonte: Meio&Mensagem

quarta-feira, 13 de maio de 2020


Grandes jornais e grupos de mídia cortam salários e jornada durante pandemia

Diminuição vai de 25% a 33%
Folha foi último a fazer anúncio

 Empresas de mídia anunciaram cortes de salário e jornada por causa da pandemia de covid-19Sérgio Lima/Poder360 - 23.jan.2019
Funcionários da Folha de S.Paulo concordaram, na 3ª feira (12.mai.2020), com a redução de 25% do salário e da jornada de trabalho. A diminuição, que valerá por 3 meses a partir de junho, afeta repórteres, fotógrafos e editores em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Em sua proposta, a Folha promete auxílio alimentação de R$ 150 por mês, além de reembolso de gastos extras com o trabalho remoto; estabilidade de emprego por até 1 ano –profissionais demitidos nesse período terão direito a indenização de 70% sobre os ordenados restantes; e manutenção do plano de saúde até 31 de dezembro, mesmo em caso de demissão. Procurado, o jornal afirmou que a redução não atinge funcionários do portal de internet UOL, que também integra o Grupo Folha.
Folha, jornal de maior influência no país e que completa 100 anos em 2021, foi a última grande publicação a anunciar esse tipo de acordo com seus profissionais. Outros grandes veículos da mídia jornalística já haviam adotados medidas de cortes de gastos por causa dos efeitos da pandemia de coronavírus.
A direção do jornal Correio Braziliense, que pertence ao Grupo Diários Associados, decidiu também na 3ª feira (12.mai) cortar 25% do salário de parte dos jornalistas, diagramadores, designers, fotógrafos e funcionários do setor administrativo. Segundo apurou o Poder360, as reduções não afetarão os contracheques dos repórteres que atuam diretamente nas coberturas de economia, política nacional e no jornalismo local.
Por causa da medida, os profissionais do Correio Braziliense fizeram uma assembleia virtual e decidiram paralisar as atividades: alegam que os salários de abril ainda não foram quitados integralmente e pedem melhores condições de trabalho. Os funcionários do jornal realizarão nova assembleia nesta 4ª feira (13.mai). A empresa não havia se manifestado publicamente sobre os cortes quando este texto foi concluído.
Pelo menos 15 outras empresas de jornalismo decidiram cortar salários e jornadas de trabalho durante a pandemia. Também houve casos de demissões. Leia infográfico preparado pelo Poder360 sobre assunto:

Na avaliação de presidente do SJSP (Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo), Paulo Zocchi, a hipótese de redução de salário num momento de crise pode impactar negativamente a qualidade do trabalho jornalístico. “Para cumprir a função essencial de informar a população neste momento de calamidade pública, os jornalistas não têm poupado esforços. Há profissionais colocando-se em situação de risco ampliado de contágio (risco para si mesmos e para as suas famílias), durante a cobertura da pandemia”, diz.
PREVISÃO LEGAL
MP 936, de 1º de abril, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, apresenta medidas trabalhistas alternativas durante a pandemia. O texto estabelece a redução de até 70% do salário dos funcionários, com redução paralela da jornada de trabalho, por até 3 meses. De acordo com a medida provisória, as reduções de salários podem ser de 25%, 50% ou 70%. Em alguns dos casos, a mudança pode ser feita por negociação individual, sem a participação do sindicato ao qual o empregado está vinculado.
Quando o corte for de 25%, a alteração pode ser realizada por acordo individual entre o patrão e o empregado, independente da faixa salarial. Já nas reduções de 50% e 70% ou suspensão de contrato, os acordos individuais só poderão ser firmados com empregados que ganham menos de R$ 3.135 ou mais de R$ 12.202,12. Os trabalhadores que recebem de R$ 3.136 a R$ 12.202,11 só poderão ter seus contratos modificados por acordo ou convenção coletiva, com a participação do sindicato.
COMO FUNCIONA A JORNADA MENOR
Os veículos de comunicação adotam modelos diferentes para adaptar a equipe a uma jornada de trabalho em média 25% menor.
Os jornalistas já obedecem a uma legislação específica e mais favorável a essa categoria na comparação com várias outras. A regra determina jornadas de apenas 5 horas diárias e no máximo duas horas extras para colaboradores de empresas jornalísticas. Ou seja, os profissionais de imprensa só podem, de acordo com a lei, trabalhar até 7 horas por dia, de 2ª feira a sábado –42 horas por semana.
Essas regras estão na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), nos seus artigos 302 e 316, num capítulo específico chamado “Dos Jornalistas Profissionais”.
A maioria das empresas antes da pandemia de covid-19 adotava 1 sistema de trabalho de cerca de 8 horas por dia,  mas apenas de 2ª a 6ª feira e com folgas nos fins de semana. As equipes de jornalistas que trabalhavam em plantões aos sábados e domingos ganhavam folgas para serem gozadas ao longo da semana subsequente ou aumentavam seus saldos em bancos de horas –e essas horas eram usadas em datas posteriores acertadas com as direções dos veículos.
Segundo apurou o Poder360, a adaptação da redução de salários e de jornadas de trabalho tem variado entre os jornais.
Alguns veículos têm simplesmente reduzido a jornada de seus jornalistas para 4 dias por semana. Por exemplo, o profissional trabalha de 2ª a 5ª feira e folga na 6ª feira, sábado e domingo.
Outros têm preferido manter o sistema como está atualmente e concedem folgas emendadas de 6 a 7 dias por mês para os jornalistas que tiveram o corte de 25% no salário e na jornada.
Em geral, esses acordos têm sido realizados com o acompanhamento de sindicatos locais. Sem a adoção dessas medidas, vários jornais teriam de ter cortado postos de trabalho em suas Redações.
O jornal digital Poder360 não adotou até o momento nenhum tipo de medida para reduzir salários de seus profissionais.
CNN É ACUSADA DE IRREGULARIDADES
CNN Brasil, que estreou no país em março, é alvo de acusações sobre possíveis irregularidades na contratação de repórteres cinematográficos. Além disso, o canal de notícias estaria ignorando as normas sobre escalas de plantões –que estipulam 1 dia de folga a cada 6 trabalhados– e o pagamento de horas extras.
O chefe de Redação da emissora em Brasília, Roberto Munhoz, declarou que a empresa pretendia seguir 1 esquema em que para cada 12 dias trabalhados seriam concedidos 2 dias de folga, conforme a regra legal que é adotada em São Paulo para a categoria dos jornalistas.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, o regime é ilegal em Brasília. “O SJPDF compreende essa jornada como ilegal, uma vez que contraria o artigo 307 da CLT que garante 1 dia de folga a cada 6 trabalhados a todos os jornalistas”, disse em nota.
 Esta reportagem foi produzida pelo estagiário Weudson Ribeiro sob supervisão do secretário de Redação Douglas Pereira.
Fonte: Poder 360
WEUDSON RIBEIRO
13.maio.2020 (quarta-feira)


segunda-feira, 13 de abril de 2020


Impressos flexibilizam conteúdo e ofertas comerciais

Diante da retração geral das atividades das empresas, publishers propõem novos formatos de parcerias e condições especiais na negociação com clientes
Assim como todos os setores da economia, os veículos de comunicação estão sentindo o impacto da Covid-19. Por um lado, o isolamento social impulsiona acessos às propriedades digitais. Por outro, a retração econômica prevista para o período desafia publishers a renegociarem projetos já fechados e a criar novas soluções comerciais para clientes — que estão, afinal, revendo seus investimentos em mídia. Nos últimos dias, publishers se movimentaram para reformular entregas editoriais e comerciais, reavaliando também suas estratégias de distribuição.

Daniela Falcão, presidente da Editora Globo Condé Nast, conta que os títulos da casa — entre eles Vogue, Casa Vogue e GQ — terão em média 20% de queda de receita digital e impressa em março, considerando o cancelamento das negociações que já estavam fechadas. Para manter a frente comercial aquecida, a EGCN tenta oferecer soluções mais viáveis economicamente, como condições facilitadas de parcelamento.
Outras ofertas visam gerar mais engajamento junto a clientes em um momento delicado, mesmo que não gerem receitas, necessariamente. Em uma delas, a editora oferece um post patrocinado gratuito a clientes que doarem metade do valor de um anúncio a uma ong ou pequeno empresário. “É uma iniciativa de fomento ao mercado neste momento. Precisamos que as marcas continuem vivas para que, quando esse momento passar, voltem a anunciar conosco”, analisa Daniela.
Um desafio, do ponto de vista comercial, é desenvolver planos específicos para cada cliente. “Este é um momento de escuta e de bolar soluções em conjunto, porque a situação de cada cliente é muito diferente. Tem marca que está com estoque parado, marca que está sem estoque, marca que está com a operação física toda fechada e marca que precisa vender online”, exemplifica. O papel dos veículos, na opinião de Daniela, é ajudar marcas a venderem o que for possível, além de manter as marcas no imaginário do consumidor.

Entre os títulos da EGCN, a Vogue está promovendo alguns projetos para marcas usando como gancho o contexto de isolamento social. Em suas redes sociais, a revista está promovendo conteúdo sobre home office e tempo com a família junto às marcas Amissima e Aleha, além de promover pequenas marcas da moda brasileira.
Já a editora Trip, responsável pela realização da revista da companhia aérea GOL, criou uma estratégia inusitada para distribuir a edição de abril da revista de bordo — cuja circulação será impactada pelo menor volume de pessoas viajando. A editora se uniu à GOL e à Cia Tradicional de Comércio, rede de restaurantes responsável por marcas como Braz, ICI Brasserie, Astor e Pirajá, em uma ação para entregar a revista via delivery, junto aos pedidos feitos aos restaurantes da rede na cidade de São Paulo.
“A Gol é um cliente que, assim como outras empresas e companhias aéreas, está sofrendo muito com esse momento. Essa ação é um jeito de fazer a revista circular e transmitir o discurso da marca, mesmo com muito menos gente viajando”, conta Paulo Lima, fundador e editor da Trip.

Um dos eventos proprietários da editora, o Trip Transformadores, que acontece no segundo semestre, também será temático sobre o coronavírus. A premiação, que anualmente homenageia nomes de destaque em diferentes áreas, este ano celebrará dez pessoas que estão atuando para combater a pandemia em diferentes frentes. Na frente editorial, a editora criou projetos digitais com abordagem positiva e que podem ser atrelados às marcas. Entre eles estão a série “Compre Delas” para a revista TPM, uma iniciativa para promover, diariamente, pequenas empreendedoras nas redes sociais; e a série de vídeos “40tena Sessions”, com apresentações de artistas gravadas em suas casas.
A Editora Globo, por outro lado, investe em iniciativas editoriais de utilidade pública às quais marcas possam se associar, como cartilhas, lives e bots. O primeiro projeto nesse sentido é a campanha “Apoie o Negócio Local”, ação integrada de conteúdo que reúne os Jornais O Globo, Valor, Extra e as revistas Época Negócios e Pequenas Empresas & Grandes Negócios. A primeira marca associada ao projeto é a Stone, que teve sobrecapas nos jornais e ações digitais junto aos títulos envolvidos.
“Lançado e comercializado em tempo recorde, é uma ação essencial para reduzir o sofrimento dos empreendedores, especialmente micro, pequenos e médios, e uma oportunidade institucional e promocional para marcas”, explica Ricardo Rodrigues, diretor nacional de negócios da editora.

Entre os jornais, o Estadão passa a oferecer, a partir desta semana, um pacote comercial multiplataforma e personalizado de acordo com diferentes segmentos de mercado, como varejo, mobilidade e mercado financeiro. “Estamos fazendo menos projetos de alto ticket para focar em projetos de venda mais trivial. Oferecemos um desconto significativo nas nossas plataformas para manter a chama comercial acesa, sem que os clientes tenham que paralisar totalmente seus processos de comunicação”, explica o diretor de marketing do Estadão, Daniel Canello.
Sem abrir dados, ele conta que o jornal notou em março um aumento na receita de mídia programática, assim como de assinantes e acessos digitais à página do Estadão. “Em um período como esse, as pessoas buscam veículos com mais credibilidade”, justifica.

Fonte: Meio&Mensagem
Karina Balan Julio
30 de março de 2020