quinta-feira, 16 de agosto de 2018


Após demissão em massa e fechamento de revistas, Grupo Abril pede recuperação judicial

“A movimentação já era cogitada desde dezembro do ano passado. Em comunicado, Grupo Abril informa que atitude visa a “repactuação de seus passivos junto a bancos e fornecedores”.

O pedido de recuperação judicial ocorre uma semana após a empresa promover demissão em massa. Foram mais de 100 demitidos e fechamentos de revistas e sites.

Depois de dispensar cerca 800 funcionários e anunciar o fim da operação de 11 títulos, entre revistas e sites, o Grupo Abril entrou com pedido de recuperação judicial. A solicitação por parte da empresa foi anunciada à imprensa e ao mercado na tarde de quarta-feira, 15. Em comunicado, a companhia informa que a ação engloba todas as suas divisões, como a distribuidora e a parte de mídia. A demanda foi registrada na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP).

O Grupo Abril garante que o pedido de recuperação judicial se faz necessário para que se tenha “proteção judicial” junto a bancos, fornecedores e demais parceiros. O interesse é, reforça a nota, garantir a própria “continuidade operacional”. Como ocorreu na última semana em meio à demissão em massa, a empresa de comunicação cita o momento do setor no país. A empresa afirma que as mudanças relacionadas à tecnologia afetaram a “circulação de revistas e na receita de publicidade”. 
Para eles, foi algo que ocorreu “no Brasil e no mundo”.

A nota oficial divulgada pelo Grupo Abril reforça outro ponto. A empresa avisa que sofreu duplo revés recentemente no que tange o dia a dia dos negócios. As situações adversas foram: instabilidade junto aos credores e restrição do capital de giro. O conglomerado de mídia sinaliza, ainda, que tentou ao máximo evitar o pedido de recuperação judicial. Nesse sentido afirma que a recente demissão em massa aconteceu para manter o equilíbrio econômico e financeiro. 
O passaralho, contudo, é chamado de “adequação de portfólio”. 

Operação enxugada
O pedido de recuperação judicial por parte do Grupo Abril era ventilado desde o fim do ano passado. Em dezembro de 2017, reportagem de Tácila Rubbo para o Portal Comunique-se dava conta da demissão de mais de 100 funcionários. Em meio à notícia sobre o enxugamento da editora de revistas, apurou-se que houve proposta para parcelamento das verbas rescisórias. Tratava-se de algo que só poder ser feito em corporações que estão em meio a pedidos de recuperação judicial ou falência. Na ocasião, o então presidente do Grupo Abril, Arnaldo Figueiredo Tibyriçá, negou a intenção — que se confirma meses depois.

Antes de oficializar o pedido de recuperação judicial, o Grupo Abril enxugou a sua operação. Na última semana, além da demissão em massa, com cerca de 800 desligamentos, a empresa se desfez de títulos. Redações inteiras de sites e revistas mantidos pela companhia foram fechadas. Onze marcas foram descontinuadas. Dessa forma, 14 veículos foram mantidos. Capricho, Claudia, Exame, MdeMulher, Placar, Quatro Rodas, Saúde, Superinteressante, Veja, Veja São Paulo (Vejinha), Viagem& Turismo, VIP, Você RH e Você S/A. Tido inicialmente como parte da nova fase da companhia, o Guia do Estudante teve todos os seus profissionais demitidos, conforme denunciado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.

“Auto-entrevista” do presidente
Presidente executivo do Grupo Abril, Marcos Haaland falou do pedido de recuperação judicial em espécie de“auto-entrevista”. Em conteúdo publicado no site da Exame.com – e que não conta com a assinatura de nenhum jornalista -, ele comenta as razões para a solicitação. O executivo, que é sócio da consultoria Alvarez & Marsal, fala até dos prejuízos financeiros. “[O valor da dívida] é da ordem de 1,6 bilhão de reais o total das dívidas submetidas à recuperação judicial”, disse. Haaland também confirmou que foram cerca de 800 os demitidos na última semana.

Marcos Haaland ocupa o cargo de presidente executivo do Grupo Abril desde julho (Imagem: divulgação)

O que é recuperação judicial?
Em especial de março de 2015, o G1 explicou o que é de fato um pedido de recuperação judicial. O site informa que se trata de um mecanismo legal para evitar falência. E empresa que faz uso desse aparato tem o direito de deixar rolar determinadas dívidas por maior tempo. Em meio ao processo, a operação é mantida, mas é preciso que um plano para superar os problemas seja protocolado. Com isso, quem está em processo de recuperação judicial deve apresentar balanço mensal à Justiça e aos credores. Se não conseguir cumprir o plano acordado, a falência é decretada.

Confira a íntegra da nota oficial do Grupo Abril:
O Grupo Abril comunica que protocolou na data de hoje um pedido de recuperação judicial de suas empresas na vara de recuperação judicial e falências de São Paulo, conforme definido nos artigos 47 e 48 da Lei 11.101/2005. Esse pedido engloba todas as companhias operacionais do Grupo, incluindo a Abril Comunicações e as empresas de distribuição de publicações, agrupadas dentro da Dipar Participações, e de distribuição de encomendas Tex Courier. Esse movimento se deve à necessidade do grupo em buscar proteção judicial para a repactuação de seu passivo junto a bancos e fornecedores e, dessa forma, garantir sua continuidade operacional.

Nos últimos anos, o setor vem passando por uma profunda transformação tecnológica que afetou fortemente as empresas de mídia, no Brasil e no mundo, com impacto na circulação de revistas e na receita de publicidade. A Abril vem se ajustando a essa nova realidade através de redução de custos e despesas. Recentemente, promoveu uma ampla adequação de seu portfolio de produtos buscando um equilíbrio econômico-financeiro.

Porém, uma situação de instabilidade junto a seus credores e ações abruptas de restrição de seu capital de giro levaram o grupo a seguir pelo caminho da proteção judicial. A Abril reforça que continuará operando normalmente e fornecendo a seus leitores produtos de alta qualidade editorial, em compromisso com sua história na imprensa brasileira e em respeito aos seus públicos e parceiros.

Fonte: Comunique-se

terça-feira, 14 de agosto de 2018

A crise de identidade dos jornais de prestígio

Por Luis Sérgio Santos em 07/08/2018 na edição 999
É certo que os jornais impressos no suporte papel enfrentam a competição “desleal” das plataformas digitais de distribuição de informação. O marco da anarquia digital é 1996, ninguém previu o novo ciclo e ele se inicia para o implantar o caos e desorganizar a segurança conservadora principalmente dos grandes grupos de comunicação. A dicotomia rico x oportunidade ampliou um enorme gap, para alguns, literal abismo. A incerteza passou a ser a regra e os oráculos começaram a errar na sequência da derrocada de um castelo de cartas.
Atualizaram-se conceitos, a ideia de ‘sociedade líquida’ ganhou consistência nos textos de Zygmunt Bauman. Eles dialetizam, Marx, W. Benjamin, Marshall Berman. Criaram-se neologismos e novas dicotomias: velha mídia x nova mídia. Algo altamente edipiano como vemos em Freud porque trata-se principalmente de um conflito de gerações.
Mas o grande conflito ganhou relevo quando foi colocado em xeque o papel como suporte de produtos editoriais. De repente, o papel era o inferno, traduzia literalmente a ideia de velha mídia. O papel é analógico é nada mais velho que suportes analógicos. O surgimento da “impressão” virtual, na extensão PDF, metaforizava e substituia o papel como suporte. Agora podíamos “imprimir” sem enviar o documento para nenhuma suporte analógico.
A tecnologia encerrava-se em si mesma. Não à toa, PDF é a sigla de Portable Document Format(documento em formato portátil) que consolida em um documento todos os elementos de um layout (texto, desenhos, cores, fotografias, gráficos) imitando um documento impresso. Ele pode ser visualizado, impresso e transmitido eletronicamente. Representou um enorme avanço na produção gráfica no mundo todo e era uma ameaça real ao papel analógico. A palavra “documento” era chave. A ideia tradicional de documento como algo analógico estava em xeque.
O ano era 1993 a nascia o digital paper, ameaça real e imediata ao velho papel do jornal. Em 1985, dois anos depois, Bill Gates lança ‘The road ahead’ e ataca visceralmente o conceito tradicional de documento como algo estritamente analógico: “Quando você pensa em um “documento”, provavelmente visualiza pedaços de papel com alguma coisa impressa neles, mas essa definição é limitada.” Até a massificação do ambiente Windows criado por Bill Gates em 1985 o computador era uma torre de marfim. Este é o marco do PC, o personal computer, computador pessoal.
Até então, ninguém imaginava que uma gigantesca bola de neve iria se formar projetando-se rumo ao jornal impresso em papel. Gates inaugurava um marco tecnológico revolucionário como fora a invenção dos tipos móveis — a primeira linha de montagem de que se tem notícia — criada pelo visionário alemão Johannes Gutenberg.
Ainda Gates, em 1995: “Embora os jornais de hoje tenham um longo futuro pela frente, o jornalismo enquanto negócio se alterará fundamentalmente quando o consumidor tiver acesso à estrada. Nos Estados Unidos, os jornais diários dependem de anúncios locais para a maior parte de sua receita.”
Gates vaticinava que a internet seria o novo mediador nas relações de compra e venda: “A estrada proporcionará maneiras alternativas e mais eficientes para que vendedores e compradores individuais se encontrem.” E isso valeria para quase tudo. A perda da força mediadora comercial impactou também na perda de influência local. Ao mesmo tempo, proliferaram novas fontes de emissão de informação e, principalmente, de opinião.
Pronto, aqui temos o calcanhar de Aquiles, a perda de receita publicitária. No Brasil, essa perda foi avassaladora. A maior queda de receita aconteceu junto aos anunciantes não somente corporativos mas também de varejo. Os anúncios classificados evaporaram. Desse modo, e por exclusão, houve um aumento na participação dos assinantes e da venda avulsa na composição do faturamento mas, no geral, isso sequer fez cócegas e a queda total no faturamento continuou desnorteadora.
Quando um negócio é atacado em seu ponto mais sensível, a receita líquida, cria-se uma enorme vulnerabilidade. Uma alternativa era compensar a perda cobrando pelo acesso ao conteúdo na distribuição via internet. Faltava combinar com o internauta.
A reação — tardia para alguns — foi tentar se apropriar dessa nova tecnologia, uma estrada desconhecida e volátil onde a informação parecia jorrar gratuitamente, como uma nascente brota ao sopé de uma duna.
Nesse cenário, um problema de natureza simbólica ganhou relevo: a crise de identidade e a perda da consciência da natureza do jornal impresso notadamente no formato ‘standard’.
Notadamente no Brasil esse conflito foi — e está sendo — demasiado acentuado. A plasticidade dos jornais ‘standard’ tem mudado repetidamente. O intervalo de redesenho dos jornais tem diminuído num auto atestado — potencialmente inseguro — de obsolescência. Mudanças drásticas vão numa única direção, a tentativa de assemelhar o desenho dos jornais aos ambientes digitais. Há uma ênfase nos espaços negativos, o uso dos brancos. Há uma quebra no paradigma do eyetrack da página impressa. A manchete, sempre nas margens externas das páginas agora migram para as margens internas, como nas webpages. Os desenhos ficam cada vez mais “revistizados”, fotos estouradas, sangradas, ao modo de tablóides sensacionalistas.
Felizmente, jornais de prestígio (prestige papers) como The Washington PostLos Angeles TimesThe New York TimesThe Wall Street Journal e os jornalões alemães de um modo geral parecem passar ao largo desta “crise de identidade”. Continuam com seus desenhos “conservadores”, com enorme ganho de produtividade nos espaços editoriais, sem ostentarem espaços negativos — afinal, o que o jornal tem para vender, senão espaço?
De qualquer modo a tentação “minimalista” é só mais um capítulo na busca de uma luz no fim do túnel, enquanto luz houver.
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Luis Sérgio Santos é professor de “Desenho Editorial” no Curso de Jornalismo na Universidade Federal do Ceará.

Fonte: Observatório da Imprensa

segunda-feira, 6 de agosto de 2018


Machine learning: what our tech team wants you to know
Published on June 21, 2018

 “Machine learning extracts the magic dust out of data.” Ralf Herbrich, Director of Machine Learning Science at Amazon

At the GEN Summit in Lisbon, Benedict Evans called for us to change the way we talk about artificial intelligence. So when members of our tech team at Twipe recently attended the AWS Summit in Berlin, I thought it was the perfect time to see what they had to say about AI and machine learning.
To begin with I asked for a simple definition of machine learning, to make sure everyone was on the same page.

“Machine learning uses algorithm that gradually improve on a task without explicitly being told how, i.e. they ‘learn’ from data.”  
 Joris Gielen, AI & Software Engineer at Twipe

We also put together a short guide on the different types of machine learning as well.


What can non-technical people do with machine learning?
There are different levels of what you can do with machine learning, and it’s important that all types of profiles can access the systems. In fact, a good machine learning system requires strong skills in three different areas: development, business, and stats. It’s hard to find one person with all three skills, so different tools have been developed to help users benefit from machine learning, no matter their background. One such tool is SageMaker, a fully managed platform that allows anyone to easily build, train, and deploy machine learning models at any scale.

What do we need to consider when working with machine learning?
There can be unintended consequences with machine learning, as machines can learn things that we didn’t foresee and they lack the intuition that humans have. An example of this is the case of a robot which was told to learn to walk with the least contact with the ground, as this is how cheetahs are able to run very fast. However the robot learned to turn over and crawl on his back, as this way his feet didn’t touch the ground at all. While he fulfilled the task he was asked to do, this wasn’t what the intended outcome had been!
It is also important to understand the tradeoff between efficiency and quality when developing an algorithm, as the one with the best result might not be the most optimal for your solution.

How will machine learning impact the media industry?
Last year McKinsey released a report on the impact of machine learning on the media industry, including the most likely use cases. We’ll begin to see even more hyper-personalised advertising, price and product offerings, and recommender systems. We’ll also see journalists being able to quickly spot new trends in consumption patterns, such as identifying viral content before it goes viral. Reducing reader churn will become more of a data-driven process (something we’re working on at Twipe now!).

What are newspapers doing with machine learning today?

The New York Times announced this year they have launched “nytDEMO“, a cross-functional team that will build data and technology solutions for brands, using the same tools and insights that power the newspaper itself. Their first machine learning project was “Project Feels”, which looked at how reader emotional response to articles influenced engagement. Now they’ve launched perspective targeting, which allows advertisers to target their media against content predicted to evoke certian reader sentiments, such as self-confidence or adventurousness.

Schibsted is also busy using machine learning in a variety of ways. In the newsroom itself they’ve implemented automatic tag suggestions for tagging articles, while for readers machine learning is used to personalise the front page and the content they see on the website.

Neue Zürcher Zeitung has built a flexible paywall using machine learning, so that is is personalised to the individual based on hundreds of criteria. In the three years since they built this, they’ve increased their conversion rate by fivefold, with 2.5% of people who view the payment message becoming subscribers. The system looks at data including reading history, device and time of day to alter the paywall message. Looking at reading history helps to better communicate the value a subscription would offer.

Of course, News UK is also working on a machine learning project right now with us at Twipe. “JAMES, your digital butler” will use machine learning to gradually get to know the habits, interests, and preferences of readers. He will expose them to relevant content in editions–current and past–in readers’ preferred formats, channels, times, and frequencies. This will increase reader satisfaction and engagement and ultimately accelerate subscription growth, enabling JAMES to transform conversion and engagement strategies by moving from segmented to highly individualised interactions with readers. To learn more about this project, make sure to attend ConTech in London this November, where Twipe CEO Danny Lein will be discussing our learnings from this project.

What is the future of machine learning?
Every day, every minute even, there is more and more data available to us, with the amount of data we’re able to access only growing in the future. We don’t know yet what we don’t know in regards to machine learning–as Benedict Evans explained at GEN Summit, no one was thinking of car hailing apps like Uber when cellphones were first developed. 
  
“We’re just at the start of what’s possible with machine learning.”  
  Glenn Gore, Chief Architect for Amazon Web Services

That’s why it is important now to think about the scalability of our machine learning systems, so they’re able to grow with the influx of data in the future.

How can I implement more machine learning in our working processes now?
I also asked the team for their advice to publishers wanting to work more with machine learning, here’s what they had to say.

 “I would advise publishers to first start with a descriptive analytics project, so taking a better look at your readers and understanding how they’re reading for example. Then you can move on to larger projects, such as creating a predictive model to predict churn.” – Jasmien Lismont

“Machine learning might sound scary and difficult at first, but you don’t need to be afraid. Decide what you want to extract from your data and give it a try. It might not be easy at first but I guarantee you: you will learn a lot, and you’ll quickly discover what works and what doesn’t.” – Bram Hendrickx

“No matter your technical background, you can succeed with machine learning if you pick the right tools. In the beginning, make sure to choose tools that will allow you to control the level of complexity.” – Lies Tambeur

“My advice to publishers wanting to work with machine learning is simple: focus on your data. The first step is to collect lots of data, then you can work on analysing and cleaning your data.” – Joris Gielen

Thanks to Joris Gielen, Jasmien Lismont, Bram Hendrickx, and Lies Tambeur for answering some of the common questions publishers have about machine learning.