quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O futuro da mídia impressa está no conteúdo


Dudu Godoy* | PROPMARK

Desde o surgimento da internet, o mercado se pergunta qual será o futuro da mídia impressa.  No início da mídia online no país, os prognósticos para o impresso eram os piores: extinções em massa dos jornais e revistas frente ao potencial da recém-nascida mídia online.

Apesar disso não ter ocorrido, a ascensão da mídia online reduziu o patamar da impressa, que foi obrigada a investir em sites e portais, sem a certeza quanto ao que fazer neste novo cenário, ou como manter o negócio do impresso saudável e inseri-lo no novo território.

O tempo passou e os leitores migraram gradativamente para o online, seguidos pelos anunciantes, que passaram a investir no segmento. Depois veio a mídia programática, promovendo uma revolução na forma de comprar o espaço publicitário online.

Temos então o seguinte quadro: queda de receita publicitária e leitores migrando para a mídia online. Será que, desta vez, o fim realmente chegará? Eu acredito que não.

A mídia impressa ainda detém o maior trunfo de todos: a produção de conteúdo aprofundado, analítico, exclusivo, de qualidade, criado por especialistas, que pode ser ofertado de forma mais palatável no online e de forma mais completa no impresso.

Contudo, há dois grandes desafios: saber como precificar o conteúdo produzido e doutrinar os leitores a pagarem pelo acesso ao conteúdo exclusivo. Mais de duas décadas de informações gratuitas na internet acostumaram mal os leitores brasileiros.

Muitos se recusam a pagar por algo que acreditam poder encontrarem sites que reproduzem notícias de jornais de renome. No entanto, na atual era do conteúdo, é necessário saber cobrar pelo acesso.

O grande exemplo está no New York Times. Nos EUA, os jornais nunca contaram com a obrigação de publicar balanços financeiros, apoiando-se em seus leitores e na publicidade direta. Mas lá também o impacto do digital foi grande para o impresso, diminuindo a circulação e a receita publicitária.

O NYT amargou anos de prejuízo, até que entendeu o que deveria ser feito: conteúdo de qualidade, cujo acesso passou a ser classificado por níveis de importância e interesse dos leitores, com a cobrança mediante assinatura e a opção das duas plataformas, com notícias na íntegra ou resumidas. Ou seja, o NYT provou que a mídia impressa pode criar diferentes formatos de cobrança por seu conteúdo.

No Brasil, os jornais estão buscando seguir o mesmo caminho, mas é importante observar que o modelo do NYT se mostrou viável após anos de prejuízo, e talvez aqui eles não tenham condições de gerenciar prejuízos de um negócio em transição.

Seja como for, a necessidade de se apostar no conteúdo é vital para que mídias impressas possam sobreviver à busca por um conteúdo relevante, que ouve e dá espaço a todos os lados da notícia, que traz notícias exclusivas, é um ativo muito importante. Se bem trabalhado, pode garantir a continuidade dos veículos e a fidelização dos leitores."

*Presidente do Sinapro-SP e VP executivo da DAN – Dentsu Aegis Network (dudu.godoy@dentsuaegis.com

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