O
pagamento pelo consumo de jornalismo está relacionado a questões culturais
e gera discussões em todo o mundo
De
Londres, Luciana Gurgel | Editora, MediaTalks by J&Cia
O
hábito de acessar informações de graça, enraizado quando a digitalização do
jornalismo dava seus primeiros passos, é um dos grandes desafios da indústria
de mídia, em um contexto em que produzir informação de qualidade exige
investimentos cada vez mais altos.
Pagar
por algo que se consome é algo que poucos questionam. Mas quando se trata de
pagar por notícias, as coisas mudam.
Esse
desafio afeta tanto países menos desenvolvidos, cujas populações não dispõem de
recursos para pagar por assinaturas, quanto nações ricas. Pesquisas mostram que
trata-se de uma questão cultural, mais do que orçamentária.
E veio
da África, mais precisamente do Quênia, um exemplo elogiado pelo Nieman
Lab, um dos principais think thanks globais de jornalismo,
baseado na Universidade de Harvard. O centro considerou exemplar a mensagem do
diretor editorial do jornal Daily Nation aos
leitores para explicar por que a publicação iria passar a cobrar pelo conteúdo,
em janeiro.
Mutuma Nathiou fez uma
analogia com a frase “Não existe almoço grátis”, celebrizada pelo
economista americano Milton Friedman, querendo dizer que em tudo na vida há
alguém pagando, mesmo que não seja você.
Ele
lembrou aos leitores que o negócio das plataformas digitais é a coleta de dados
dos usuários. E que quando eles não pagam pelo conteúdo mas deixam que seus
dados sejam capturados pelas gigantes para a venda de anúncios, o dinheiro vai
para as mãos delas. E não para quem produz jornalismo, enfraquecendo a
indústria.
Em busca
do modelo perfeito
Para
sobreviver financeiramente, seja por meio de assinaturas, micropagamentos (em
que o leitor compra apenas a matéria que deseja ler), programas de membros ou
pela propaganda tradicional, há uma regra universal: é preciso conquistar a
audiência. Porque ninguém paga, mesmo que seja pouco, se não enxerga valor.
Diante
dessa dificuldade, crescem em todo o mundo as pressões para que as gigantes
digitais remunerem os veículos jornalísticos pelo conteúdo veiculado em suas
plataformas, a fim de compensar as perdas decorrentes da concentração da
propaganda nas mãos delas. A Austrália foi o primeiro país do mundo a
regulamentar o pagamento, em uma lei aprovada em março.
Mas
não há unanimidade quanto a esse movimento. Um dos visionários da indústria de
mídia, o diretor de inovação do Wall Street Journal, é um dos que levanta
questões.
Na Conferência
da Organização Mundial de Editores, no início de março, Edward Roussel fez um
alerta: ele acha que a pressão da indústria de mídia e de governos
sobre as gigantes pode evoluir de uma benção para uma maldição, pois elas estão
entrando no negócio de notícias.
E apontou
cinco tendências de consumo de informações ditadas pelas Big Techs: brevidade,
interatividade, personalização, mais áudio e mais vídeo.
Vale
observar o que ele diz, porque seja para um grande jornal ou TV ou um blog
independente, não existe almoço grátis. Alguém vai ter que pagar a conta. E
ganhar atenção do público é parte da equação.
Leia mais sobre o que disse Edward Roussel sobre as tendências no consumo de
notícias e sobre a implantação de paywall no Daily Nation em
MediaTalks by J&Cia.
Fonte:Comunique-se
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