Paywall no Facebook
é demanda antiga dos veículos
A possibilidade de a plataforma implantar o conteúdo pago no Instant
Articles mostra uma mudança de estratégia em como ela lida com os publishers
Anotícia de que o Facebook estaria
estudando o desenvolvimento de um modelo de paywall para publishers no Instant
Articles ventilou com bastante desinformação. Após Campbell Brown, head de
novos negócios da empresa, contar ao site de notícias TheStreet que estava nos
planos a cobrança no Instant Articles, muitos sites deram que o Facebook
cobraria por qualquer notícia. Apesar dos desencontros que ela causou, a
informação é importante já que sinaliza um novo posicionamento da plataforma em
relação à monetização de conteúdo.
A medida, segundo Campbell, é uma das respostas do
Facebook às reclamações sobre a falta de sensibilidade da empresa com as
receitas de veículos. Recentemente, a News Media Alliance encaminhou ao congresso
americano um pedido de revisão de suas leis antitruste de forma que a entidade
possa representar centenas de jornais na negociação com plataformas. Meio & Mensagemapurou que a iniciativa do
Facebook é uma demanda antiga dos veículos que pediram à plataforma um modelo
de negócios de cobrança. Em nota, o Facebook Brasil afirma que está em
conversas iniciais com diversas organizações de mídia sobre como pode dar
melhor suporte aos modelos de negócio por assinatura. A previsão é que,
até outubro, sejam iniciados os testes e, até 2018, o modelo comece a vigorar.
“Sem paywall,
a gente não abre nosso conteúdo no Facebook”, diz Sérgio Davila
Em comunicado divulgado na noite desta quinta-feira, 20, o Facebook
anunciou um balanço sobre os seis primeiros meses do projeto Facebook para
Jornalismo. A empresa informou que o Instant Article paga mais
de US$1 milhão por dia para os veículos de mídia via Facebook Audience Network
e, nos últimos 6 meses, a receita por cada mil visualizações a partir do
Facebook Audience Network em Instant Articles aumentou mais de 50%. “Estamos
entusiasmados com esse momento e continuaremos a investir no Instant Articles:
mais de 10 mil veículos em todo o mundo usam o formato, com um crescimento de
25% apenas nos últimos seis meses. Hoje, mais de um terço de todos os cliques
para artigos no Facebook são para Instant Articles”, informa a empresa.
Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, explica que o
jornal não estava no Instant Articles justamente pela ausência do paywall. “Sem
essa possibilidade, a gente não abre nosso conteúdo. Apesar de as informações
serem incipientes parece que, de fato, eles vão passar a aceitar”, diz Dávila.
O Instant Article paga mais de US$1 milhão por dia para os veículos de
mídia via Facebook Audience Network
Luciana Bazanella, profissional com passagens pela AG2 Nurun e
atualmente consultora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que com tal
atitude o Facebook sinaliza que enxerga o conteúdo jornalístico como forma de
adicionar novas receitas.
“Facebook está
dando uma colher de chá aos veículos que usam paywall”, diz Caio Túlio Costa.
“Parece que o ‘it’s free and will
always be’ do Facebook não resistiu aos novos tempos. A implementação do
paywall no Facebook consolida a plataforma como um uber veículo de comunicação
da nova era, um hub para audiência acessar publishers a partir da lógica do seu
algoritmo. A polêmica medida certamente enfrentará resistência do público, mas
o que mais podemos depreender deste movimento? ”, diz Luciana.
Segundo Luciana, já se sabia que a restrição do
inventário do Facebook iria pressionar a companhia a buscar fontes de receitas
nas plataformas (messenger, instagram, whatssapp), mas a movimentação no
sentido do modelo de assinaturas certamente tem a ver com a pressão de diversas
áreas da sociedade com a disseminação de notícias falsas. “Fala-se abertamente
sobre como a eleição de Trump foi influenciada pelas fake news e entidades como
a Associated Press estão trabalhando em coletivos para melhorar a qualidade da
informação que circula na rede. O Facebook agora tenta achar uma forma de
dividir com os publishers o bolo da exploração deste conteúdo através da
criação de novas receitas, e assim não ter que mexer no bolso. Resta saber se a
audiência vai comprar essa ideia”, completa Luciana.
Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de
S.Paulo de 2008 a 2010, reforça que a notícia é um passo na direção certa na
medida em que valoriza o conteúdo jornalístico outrora desvalorizado no mundo
digital. Caio Túlio Costa, fundador da empresa Torabit, acredita que, apesar da
desinformação envolvendo a notícia de que o Facebook iria cobrar por qualquer
conteúdo jornalístico, a incorporação do paywall dos publishers na plataforma
vai permitir que os jornais cobrem. “O Facebook está dando uma colher de chá
aos veículos que usam paywall”, diz Túlio Costa.
Para Ana Brambilla, especialista em conteúdo digital, paywall já
não faz sentido em site jornalístico e não fará dentro da plataforma. “Em rede
social, então, é ainda pior, pois o público não está ali pra ver notícia; elas
aparecem por acaso. Esse consumo casual de notícias no newsfeed é algo que a
pesquisa da Reuters indica já há alguns anos. E mais: há dúvidas importantes
aí, por exemplo: qual vai ser o revenue share do Facebook? Quem terá acesso aos
dados desse assinante?”, provoca.
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