Após demissão em massa e fechamento de revistas, Grupo Abril pede
recuperação judicial
“A
movimentação já era cogitada desde dezembro do ano passado. Em comunicado,
Grupo Abril informa que atitude visa a “repactuação de seus passivos junto a
bancos e fornecedores”.
O pedido de
recuperação judicial ocorre uma semana após a empresa promover demissão em
massa. Foram mais de 100 demitidos e fechamentos de revistas e sites.
Depois de dispensar cerca 800 funcionários e
anunciar o fim da operação de 11 títulos, entre revistas e sites, o Grupo Abril
entrou com pedido de recuperação judicial. A solicitação por parte da empresa
foi anunciada à imprensa e ao mercado na tarde de quarta-feira, 15. Em
comunicado, a companhia informa que a ação engloba todas as suas divisões, como
a distribuidora e a parte de mídia. A demanda foi registrada na 1ª Vara de
Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (TJ-SP).
O Grupo Abril garante que o pedido de recuperação
judicial se faz necessário para que se tenha “proteção judicial” junto a
bancos, fornecedores e demais parceiros. O interesse é, reforça a nota,
garantir a própria “continuidade operacional”. Como ocorreu na última semana em
meio à demissão em massa, a empresa de comunicação cita o momento do setor no
país. A empresa afirma que as mudanças relacionadas à tecnologia afetaram a “circulação de revistas e na receita de publicidade”.
Para eles, foi algo que ocorreu “no Brasil e no
mundo”.
A nota oficial divulgada pelo Grupo Abril reforça
outro ponto. A empresa avisa que sofreu duplo revés recentemente no que tange o
dia a dia dos negócios. As situações adversas foram: instabilidade junto aos
credores e restrição do capital de giro. O conglomerado de mídia sinaliza,
ainda, que tentou ao máximo evitar o pedido de recuperação judicial. Nesse
sentido afirma que a recente demissão em massa aconteceu para manter o
equilíbrio econômico e financeiro.
O passaralho, contudo, é chamado de
“adequação de portfólio”.
Operação
enxugada
O pedido de recuperação judicial por parte do Grupo
Abril era ventilado desde o fim do ano passado. Em dezembro de 2017, reportagem de Tácila Rubbo para o
Portal Comunique-se dava conta da demissão de mais de 100
funcionários. Em meio à notícia sobre o enxugamento da editora de revistas,
apurou-se que houve proposta para parcelamento das verbas rescisórias.
Tratava-se de algo que só poder ser feito em corporações que estão em meio a
pedidos de recuperação judicial ou falência. Na ocasião, o então presidente do
Grupo Abril, Arnaldo Figueiredo Tibyriçá, negou a intenção — que se
confirma meses depois.
Antes de oficializar o pedido de recuperação
judicial, o Grupo Abril enxugou a sua operação. Na última semana, além da
demissão em massa, com cerca de 800 desligamentos, a empresa se desfez de
títulos. Redações inteiras de sites e revistas mantidos pela companhia foram
fechadas. Onze marcas foram descontinuadas. Dessa forma, 14 veículos foram
mantidos. Capricho, Claudia, Exame, MdeMulher, Placar, Quatro Rodas, Saúde,
Superinteressante, Veja, Veja São Paulo (Vejinha), Viagem& Turismo, VIP,
Você RH e Você S/A. Tido inicialmente como parte da nova fase da companhia,
o Guia do Estudante teve todos os seus profissionais demitidos, conforme
denunciado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no
Estado de São Paulo.
“Auto-entrevista”
do presidente
Presidente executivo do Grupo Abril, Marcos Haaland
falou do pedido de recuperação judicial em espécie de“auto-entrevista”. Em
conteúdo publicado no site da Exame.com – e que não conta com a assinatura de
nenhum jornalista -, ele comenta as razões para a solicitação. O executivo, que
é sócio da consultoria Alvarez & Marsal, fala até dos prejuízos
financeiros. “[O valor da dívida] é da ordem de 1,6 bilhão de reais o
total das dívidas submetidas à recuperação judicial”, disse. Haaland também
confirmou que foram cerca de 800 os demitidos na última semana.
Marcos Haaland ocupa o cargo de presidente
executivo do Grupo Abril desde julho (Imagem: divulgação)
O que é
recuperação judicial?
Em especial de março de 2015, o G1 explicou o que
é de fato um pedido de recuperação judicial. O site informa que se trata de um
mecanismo legal para evitar falência. E empresa que faz uso desse aparato tem o
direito de deixar rolar determinadas dívidas por maior tempo. Em meio ao
processo, a operação é mantida, mas é preciso que um plano para superar os
problemas seja protocolado. Com isso, quem está em processo de recuperação
judicial deve apresentar balanço mensal à Justiça e aos credores. Se não
conseguir cumprir o plano acordado, a falência é decretada.
Confira a
íntegra da nota oficial do Grupo Abril:
O Grupo Abril comunica que protocolou na data de
hoje um pedido de recuperação judicial de suas empresas na vara de recuperação
judicial e falências de São Paulo, conforme definido nos artigos 47 e 48 da Lei
11.101/2005. Esse pedido engloba todas as companhias operacionais do Grupo,
incluindo a Abril Comunicações e as empresas de distribuição de publicações,
agrupadas dentro da Dipar Participações, e de distribuição de encomendas Tex
Courier. Esse movimento se deve à necessidade do grupo em buscar proteção
judicial para a repactuação de seu passivo junto a bancos e fornecedores e,
dessa forma, garantir sua continuidade operacional.
Nos últimos anos, o setor vem passando por uma
profunda transformação tecnológica que afetou fortemente as empresas de mídia,
no Brasil e no mundo, com impacto na circulação de revistas e na receita de
publicidade. A Abril vem se ajustando a essa nova realidade através de redução
de custos e despesas. Recentemente, promoveu uma ampla adequação de seu
portfolio de produtos buscando um equilíbrio econômico-financeiro.
Porém, uma situação de instabilidade junto a seus
credores e ações abruptas de restrição de seu capital de giro levaram o grupo a
seguir pelo caminho da proteção judicial. A Abril reforça que continuará
operando normalmente e fornecendo a seus leitores produtos de alta qualidade
editorial, em compromisso com sua história na imprensa brasileira e em respeito
aos seus públicos e parceiros.