24 de março de 2017
Particularmente,
não fiquei apreensivo quando li a notícia sobre o “ Uber ” do jornalismo. Por
um motivo: cedo ou tarde, esta realidade, inevitavelmente, iria se impor
A indústria da informação está sendo impactada,
neste momento, pela disrupção oriunda das modernas tecnologias, que vêm
resignificando o modus operandi jornalístico.
Até aí, novidade alguma.
O dado curioso, porém, é que os dois jornais mais
influentes dos Estados Unidos, The New York Times e The Washington Post,
entraram de vez na era da automação das notícias. “Ambos têm em sua operação
cotidiana softwares que produzem notícias nas áreas de esporte, economia, moda,
saúde e outras mais, substituindo a mão de obra humana com maior rapidez e
eficiência,” conta Pyr Marcondes, jornalista, autor e consultor.
O tema foi discutido em dois painéis que
aconteceram na edição recente do badalado South by Southwest (SXSW), que
ocorreu neste ano entre 10 e 19 de março, em Austin, no Texas. “Resumindo o que
ambos os debates mostraram: nas redações de mais de 400 publicações hoje ao
redor do mundo os softwares disputam lado a lado a posição de jornalistas com
os próprios jornalistas. Isso dito por editores de grandes jornais a respeito
de suas próprias redações”, explica Marcondes, que marcou
presença no SXSW 2017.
O jornalista ficou impressionado com o que viu e
ouviu: “o que nos inquieta bastante diante de uma realidade como essa não é só
qual será o futuro dos jornalistas, mas qual será o futuro do jornalismo,
quando mais e mais máquinas estiverem produzindo as notícias que todos lemos
mundo afora”, completa.
Particularmente, não fiquei apreensivo quando li a
notícia sobre o “ Uber ” do jornalismo. Por um motivo: cedo ou tarde, esta
realidade, inevitavelmente, iria se impor. Aconteceu em outros segmentos
profissionais (como no mercado de transportes); por que não iria, também,
ocorrer no nosso? A produção de notícias está sofrendo, sim, abalos
significativos. E daí? Notícia é commodity – sempre foi. E commodity não requer
especialidade.
No entanto – e felizmente, jornalismo não se limita
à produção de notícias. Jornalismo é: reportagem, editorial, entrevista, artigo
de opinião. É, inclusive, literatura. O que seria de gerações de focas (e
profissionais) sem a referência de obras monumentais como as de Gay Talese, Tom
Wolfe, Truman Capote e Eliane Brum?
Jornalismo transpõe o lead, as seis perguntas
clássicas. Jornalismo é ir além das versões oficiais, verdades aparentes e dos
discursos ensaiados. É interpelar autoridades, “otoridades” e não se intimidar
diante de ameaças e retaliações. Jornalismo é filtrar press-releases e ler, o
tempo todo, nas entrelinhas.
Jornalismo é curiosidade, ceticismo e pensamento
crítico; é conhecimento especializado, entendimento generalizado, sede por
informação, fome de contradição, e vontade, muita vontade, de contar uma boa
história. Jornalismo é gostar de pessoas. Saber escutá-las (não somente
ouvi-las) e se importar, verdadeiramente, com os seus dramas.
E tudo isso, até onde sei, os softwares de
automação ainda não conseguiram automatizar.
No entanto, sou um árduo defensor da constante
adaptação dos profissionais. Jornalismo não deve, necessariamente, ser exercido
apenas em jornal (radiofônico, televisivo, e, claro, impresso). O termo
espanhol equivalente, periodismo, na minha avaliação, soa muito mais adequado.
No passado longínquo e recente, a informação
circulou em paredes de cavernas, peles de animais, papiros, pergaminhos e
páginas impressas de papel. Hoje, está disponível em telas de notebooks,
smartphones, painéis de led e uma infinidade de outras incríveis plataformas.
A História ensina que devemos nos despir de
certezas e explorar o novo (fronteiras, oportunidades e tecnologias). Os
profissionais mais relevantes são exatamente aqueles que têm a habilidade
de desenvolver
novas competências.
Desafie-se. Saia da sua zona de conforto. Não evite
o inevitável.
Se reinvente.
Entenda, de uma vez por todas, que é a sua missão é
criar e distribuir conteúdos relevantes – independente do canal.
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais
inteligente; é o que melhor se adapta às mudanças”, afirmou certa vez, dizem,
um brilhante cientista.
Fonte: Comunique-se